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as cooperativas
Texto por Thaís Passos

Reciclador Solidário

Cooperlírios

Reciclador Solidário - Foto: Thaís Passos
Cooperlírios - Foto: Fernanda Juliano

Iniciado com apenas 11 catadores, o Reciclador Solidário nasceu como um projeto criado pela Prefeitura de Piracicaba em 2001, idealizado pelos assistentes sociais da Secretária do Meio Ambiente e Secretária do Desenvolvimento Social da cidade. O objetivo era retirar as pessoas que catavam material do aterro sanitário que funcionava no bairro Pau Queimado. Por meio de um barracão, caminhão e prensa oferecidos pela prefeitura, os trabalhos se iniciaram somente em alguns bairros da cidade, com os próprios catadores recolhendo os materiais. Dois anos depois, o projeto foi constituído como Cooperativa do Reciclador Solidário, no qual mais 19 catadores do lixão vieram para trabalhar com a coleta seletiva no município. Atualmente, o número de cooperados é de 66 pessoas.

Localizado na cidade de Americana, a Cooperlírios foi criada durante um programa habitacional criado pela Cooperteto (Cooperativa Nacional de Habitação e Construção), que tinha o objetivo de construir casas para as famílias que moravam na favela da Vila Mathiesen, na época a maior comunidade da cidade. Através de reuniões com os moradores, em razão da maioria trabalhar com reciclagem, foi decidido que também seria construído, nos arredores do loteamento, uma central para triagem do material reciclável para facilitar o trabalho dos catadores. A denominação como Cooperativa Cooperlírios aconteceu em 2000, depois de muitas palestras e reuniões sobre as vantagens da instalação do cooperativismo para todos. Na fundação, iniciaram 25 pessoas. Hoje, 11 cooperados fazem parte da equipe da Cooperlírios.

Foto: Thaís Passos

"Homem não para muito aqui"

Mulher, negra, mãe e catadora. Já no terceiro mandato consecutivo como presidente da Cooperativa do Reciclador Solidário, Ednalva Inês Corrêa Souza, chamada por todos como Nalva, conta sobre a grande presença feminina dentro da Cooperativa. Usando uma coroa de brinquedo que achou no material reciclável, ela já justifica, rindo: “Homem não para muito aqui, eles falam que o trabalho é pesado”.

 

Há mais de 40km de distância da cooperativa piracicabana, está Rita de Cássia de Sousa, dizendo o mesmo. Mulher, negra, mãe, catadora e também presidente responsável por uma cooperativa, a Cooperlírios, em Americana. “Tem gente que não aguenta o ‘batidão’ daqui”, se referindo aos homens catadores. Nas duas cooperativas a quantidade de mulheres já passa de 80% do número de cooperados. Dona Nalva não sabe explicar o porquê desses números, mas que ela vê isso se refletir em quase todas as cooperativas que conhece.

 

Segundo ela, as mulheres conseguem fazer todo o “trabalho pesado” das cooperativas. Fazem coleta pela cidade, ficam na esteira fazendo a triagem do material, na prensa e também descarregam caminhão.

 

Foto: Thaís Passos
Foto: Thaís Passos

No pequeno escritório do Reciclador Solidário trabalham quatro mulheres. A presidente Nalva, Valéria que “cuida das contas” e Célia, que também ajuda na parte administrativa. A mais jovem, Jeane, é catadora e começou a ajudar recentemente, desde que começou a fazer um curso na área. Lá fora o barulho é do maquinário das esteiras, prensas e mulheres conversando enquanto trabalham. Lá dentro, tocava o clássico I Will Always Love You, de Whitney Houston, enquanto elas anotam todo o balanço da cooperativa nos últimos meses em tabelas organizadas no Excel. Nalva já lembra que elas adoram ouvir uma música enquanto trabalham.  

Na Cooperlírios, quem cuida dessa parte é o funcionário Daniel Cavalcante, que começou lá como estagiário, e hoje presta serviço para a prefeitura e para a cooperativa, com os trabalhos administrativos e financeiros da cooperativa. Rita, a presidente, não se dá muito bem com os computadores, então confia no rapaz para administrar a parte mais burocrática da cooperativa. Ela começou a trabalhar na Cooperlírios há 12 anos, e conta que no início, separavam o lixo no chão. Hoje já possuem uma esteira e uma balança, e com atuais 17 cooperados, separam uma média de 37 toneladas por mês. No Reciclador Solidário, por possuírem mais cooperados (66 no total) e terem uma estrutura maior, Nalva conta que são vendidos aproximadamente 170 toneladas mensais de material reciclável.

A briga com a Prefeitura

Muito querida no Reciclador Solidário, Nalva é presidente da cooperativa há três mandados. “Catadora original” desde os oito anos, quando ajudava a mãe e os irmãos, catando material no lixão do Pau Queimado, já desativado. No início “quis ser livre” e não aceitou o convite da Prefeitura para participar do projeto da cooperativa, em 2001. Entrou em 2003, quando foi convidada novamente, e nesses anos passou por quase todos os cargos da diretoria, até ser eleita Presidente, no qual se mantém a 3 mandatos. 

Hoje, comemora a conquista junto ao Ministério Público da reforma do barracão. Segundo Nalva, está sendo construído um refeitório, cozinha e mais banheiros. Mas agora, a briga é outra. A presidente luta para que a cooperativa seja contratada como prestadora de serviço pela Prefeitura de Piracicaba. “O Reciclador Solidário faz a triagem do material, economizando de ir pro aterro e voltando pra logística reversa”.

O que é Logística Reversa?

Consiste no papel da logística no retorno de produtos, redução da fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição dos resíduos, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura.

Enquanto na logística tradicional o produto parte de um fabricante e é definido seu caminho até o consumidor final, na logística reversa, o produto tem como ponto de partida os inúmeros consumidores, com destino ao fabricante. Com isso, esta prática tem como objetivo o recolhimento e a reutilização de produtos e materiais que tiveram o seu ciclo produtivo encerrado.

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