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preconceito
Texto por Jacqueline Passos

O preconceito é uma das barreiras enfrentadas pelos cooperados. Ao longo das nossas visitas e entrevistas, ouvimos histórias emocionantes, além de situações constrangedoras que os cooperados passaram e ainda passam. Muitas vezes o trabalho do reciclador é desconhecido, e por isso, a sociedade não entende a importância da separação e da reciclagem. Com isso, o reciclador é visto como um catador de lixo, e esse é um dos primeiros preconceitos que ele mais sofre.

“As pessoas julgam aqui como se fosse um lixão, que não é material reciclável, muitos infelizmente entortam o nariz” - Lucélia

 

“Tem muito preconceito da sociedade, principalmente quando eu ia panfletar na rua (...) Porque não falava com a gente, olhava na gente assim e não conversava, nem saia pra fora pra conversar, (...) mas depois que eu vim pra cá (esteira), não sei como que está, mas a gente sente preconceito sim, que olham em você com olhar de nojo” - Silvia

 

“ (...) muitos deles não compreendem o que é a reciclagem, só que isso daqui é um serviço que todo mundo deveria dar um pouco mais de valor, entendeu? Às vezes você vai e perguntam, mas o que você faz? Eu trabalho com reciclagem, ai fazem “Hmm”, fica meio assim, acha que isso não é um serviço digno” - Benedito

 

Porém o preconceito nem sempre vem só de fora. Alguns cooperados, principalmente quando começam a trabalhar nas cooperativas, tem vergonha de dizer onde trabalham por conta do julgamento da sociedade. O processo para que eles entendam a importância do trabalho da reciclagem, tenham orgulho e vistam a camisa das cooperativas demanda tempo.

 

“Você tem que ser aberta né? Seja no que você está fazendo, catando papelão, catando jornal, você não tem que ter vergonha, aí eu aprendi, fui aprendendo, sabe, não vou me esconder mais com a minha roupa, eu vou ser eu e usar a camisa da firma, tem que usar, não adianta ser um bom jogador e não usar a camisa, então a gente tem que usar a camisa, e eu me sinto assim” - Silvia

 

Não é só o trabalho que não é reconhecido, mas também o local em si. Muitos pensam que as pessoas que ali trabalham, estão ali por falta de opção, uma vez que não foram aceitas em outros postos. Por isso, julgam que os trabalhadores do local são ex-presidiários, esposas de ex-presidiários ou drogados.

 

“Fui participar de uma reunião na ACIPI, e um rapaz da prefeitura disse que aqui só tinha drogado, que não era uma empresa, que só tinha drogado, ex-presidiário” - Lucélia

 

“Tem muito serviço que você passa preconceito, às vezes por causa de você ser preta, por causa de você ser …, ah, racismo né?” - Silvia

 

As cooperativas também são onde pessoas que já foram presas, têm a oportunidade de se inserir na sociedade novamente. Como é o caso da líder de produção Lucélia, que trabalha no Reciclador Solidário há cinco anos. Em 2007, ela foi presa por tráfico de drogas e ficou um ano e nove meses detida.

 

“No último trabalho, como eu já fui presa, a dona da casa ia me registrar e como não saia meu antecedentes na época, eu enrolei para ela poder ver que eu não queria mexer em nada dela, que eu queria realmente trabalhar. Quando ela pegou meu RG, que ela puxou, ela arrumou uma desculpa bem feia e me mandou embora. Aí em seguida já comecei a trabalhar aqui” - Lucélia

 

Em 2007, ela foi presa por tráfico de drogas e ficou um ano e nove meses detida. Na época, ela procurou o crime por falta de trabalho.

 

“E se eu não arrumasse outro trabalho, com certeza, para sustentar meus filhos eu faria qualquer coisa. Infelizmente acho que voltaria pro mundo de volta, até pro crime” - Lucélia

 

E mesmo com o preconceito sofrido, muitos dos cooperadores e recicladores vestem a camisa das cooperativas, e ainda ensinam e incentivam a vizinhança a reciclar, como contou a Silvia, que ensinou uma vizinha que jogava lixo em seu quintal, a separar o lixo reciclável em sacos azuis, do lixo orgânico em sacos pretos.


“A gente vê as coisas erradas. Eu na minha rua, falo para todo mundo, viu isso aqui é proveito, põe no saco azul” - Silvia  

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